Sobre aprender línguas, expandir horizontes e adquirir novas perspectivas

Liandra Vianna
4 min readNov 24, 2020

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Muito já foi estudado sobre os benefícios que aprender outras línguas traz ao desenvolvimento do nosso cérebro e da nossa capacidade cognitiva, mas gostaria de explorar um pouco sobre o enriquecimento pessoal, a quebra de preconceitos e paradigmas, o aprendizado cultural e intelectual, bem como as conexões que podemos estabelecer, através do estudo e posterior domínio de uma ou mais línguas estrangeiras.

Para tal, enumero a seguir, alguns aprendizados e observações que pude acumular ao longo dos anos enquanto fazia uma das coisas que mais gosto: aprender outras línguas.

A imagem e a construção do preconceito

Ao aprender uma nova língua, temos contato com novos estilos de música, filmes, séries e literatura. Através deles, podemos ter uma pequena noção de características culturais específicas dos países, nos quais as línguas que estamos estudando são faladas e certas diferenças de comportamento e pensamento já podem ser apontadas. Porém, muitos dos preconceitos que carregamos, decorrente de imagens positivas ou negativas, apresentadas pelos meios de comunicação, reforçam nossas crenças, nos mantém na zona de conforto e de distanciamento.

Tais preconceitos estão enraizados em generalizações e estrapolações de comportamentos de grupos específicos de pessoas, que não representam o todo. Cada país tem inúmeras e heterogêneas comunidades com opiniões, comportamentos, ideais e discursos diferentes. Logo, ao afirmar que determinado grupo, que tem uma imagem negativa e por isso chama mais atenção, representa toda uma nação, povo ou cultura é extremamente limitante e inverídico.

Por ser apaixonada por história mundial, outras culturas e por tudo que é diferente e novo do que eu estou familiarizada, aproveitei todas as oportunidades que tive de viajar para conversar com a mais variada gama de pessoas possível. Praticamente conduzia entrevistas com as pessoas sobre os mais diversos temas. Me interessava saber a opinião e a percepção delas sobre assuntos que eu apenas ouvia falar, inclusive sobre preconceitos, que são disseminados mundialmente.

O que ganhei com isso? Minha bolha de crenças, de preconceitos, de filosofia de vida, de linha de pensamento, de certezas foi estourada diversas vezes. Estou cada vez mais convencida de que não sei nada sobre nada, e isso é muito bom. Porque minha abordagem em relação às pessoas, a vida, às dificuldades, aos problemas, aos relacionamentos, ao trabalho, aos erros e acertos se renova a cada conversa e com isso, descubro novos meios de agir, pensar, analisar e resolver as situações, com as quais me deparo na vida. É o famoso “penso, logo mudo de opinião”.

“Aprender uma língua é como ter mais uma janela, pela qual enxergar o mundo”

Provérbio Chinês

A língua como forma de expressão

Quando nos comunicamos em nossa língua mãe, nos expressamos com mais segurança e a riqueza de detalhes nas descrições, opiniões, pontos de vista, a maneira de falar através de gestos ou na ausência deles, a entonação e as expressões faciais, são significativamente maiores do que quando tentamos passar a mesma mensagem em um outra língua, que ainda não dominamos. Trazendo esse pensamento para a perspectiva do ouvinte, muito da comunicação é perdida na tradução do conteúdo e por isso, quando conseguimos compreender com clareza o que o outro diz em sua língua materna, o entendimento das situações, a intensidade dos sentimentos, a troca de ideias e de informações se torna muito mais rica e esclarecedora, potencializando assim, nosso aprendizado.

A língua, que por muitas vezes pode ser uma barreira, gerando conflitos e desentendimentos, se torna uma ponte para o conhecimento e para a expansão dos seus horizontes, a partir do momento que você se abre para novas perspectivas, aprende a escutar com atenção e a absorver conhecimentos e ensinamentos valiosos.

Descobrindo o que nos aproxima

Outro aspecto interessante que pude observar, foi o fato de que, quanto mais você pergunta e se interessa genuinamente pelas pessoas com quem conversa, mais elas se abrem, mais elas querem saber sobre você e a sua versão dos fatos, mais as semelhanças vão aparecendo e as diferenças vão tendo menos importância. Descobrimos que nossos problemas e dificuldades, por muitas vezes, são os mesmos e aprendemos a enxergá-los sob novos pontos de vista, novas maneiras de encarar a vida e suas adversidades, assim como novas lógicas de raciocínio.

Para ter uma experiência completa de imersão em uma língua e a cultura na qual ela está inserida, é fundamental se colocar na posição de expectador curioso e reconhecer a própria ignorância em relação ao outro, ao contexto no qual ele está inserido, suas experiências passadas, suas dificuldades e influências políticas, sociais, econômicas e religiosas. Para isso, temos que manter o espírito de aprendizagem, recorrer a empatia para tentar entender o posicionamento do outro, estar aberto a discussões saudáveis e disposto a trocar em todas as ocasiões, sejam informações, histórias, cultura, sentimentos ou vivências.

Choques culturais: resiliência e adaptação

Quando temos a possibilidade de visitar os países de origem da língua que estamos estudando, conseguimos aprender, na prática, o que é resiliência ao ter que nos adaptar a diferentes costumes e regras de etiqueta, por muitas vezes desconhecidas, que diferem de país para país. Contudo, as vezes também acabamos por quebrar as regras sem querer e apresentando uma outra maneira de se portar, que também pode ser positiva e enriquecedora. Obviamente, choques culturais acontecerão, má interpretações e falhas de comunicação também, mas tudo bem, elas também fazem parte do aprendizado. Entenda onde errou e não repita na próxima vez.

Conhecer mais do outro, sob o seu ponto de vista, quase sempre nos aproxima daquilo que acreditávamos ser distante da nossa realidade. Descobrimos que somos muito mais parecidos do que diferentes e ao invés de rejeitá-los, julgá-los ou condená-los, desenvolvemos empatia por suas histórias, criamos profundas conexões e aprendemos, mais do que ensinamos.

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Written by Liandra Vianna

Service Designer, passionate about learning languages and solving problems. Sharing experiences & lessons learned.

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